Mulheres estudantes na educação profissional de jovens e adultos no IFRS: um olhar insterseccional e decolonial
- Eliandra Silva Model (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS)
- Thaiana Machado dos Anjos (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS)
- Edla Eggert (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS)
O presente trabalho faz parte de um recorte de pesquisas de doutorado desenvolvidas no Programa de Pós Graduação em Educação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - (PUCRS), Porto Alegre, Brasil. O objetivo é apresentar um recorte de escolas técnicas chamadas de Institutos Federais (IFs), destacando as mulheres estudantes da Educação Profissional Tecnológica na modalidade de Educação de Jovens e Adultos do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). Será apresentada uma análise de dados da Plataforma Nilo Peçanha (2022) e de pesquisas empíricas realizadas sobre a educação profissional e os estudos feministas, numa perspectiva interseccional e decolonial (Crenshaw, 2002; Curiel, 2017; Davis, 2016; Gebara, 2000; Gonzalez, 2020; Lugones, 2020; Saffioti, 2013) entrelaçando com os princípios da educação popular (Edla, 2005, 2013; Freire, 2022; hoocks, 2017; Streck & Esteban, 2013). Os Institutos Federais de Educação, Ciência e de Tecnologia foram criados em 2008, durante o segundo mandato do Governo Lula, com o compromisso de ofertar educação profissional e tecnológica, em diferentes níveis e modalidades, e a desenvolver atividades de ensino, pesquisa e extensão, visando a inclusão social, a inovação tecnológica do país, contribuindo para o desenvolvimento local e regional dos territórios onde estão inseridos. Atualmente o Brasil possui 38 Institutos Federais, espalhados em 602 campi por todo o território brasileiro e que, neste ano de 2023, completam 15 anos de criação. Cada instituição é organizada em estrutura multicampi, com autonomia administrativa, pedagógica e financeira, equiparando-se com as Universidades Federais. No presente estudo direcionamos a nossa investigação ao Instituto Federal do Rio Grande do Sul ( IFRS), que conta com 17 campi, em 16 cidades diferentes do estado do Rio Grande do Sul. O compromisso dessas escolas é o de oferecer ensino público, gratuito e de qualidade, tendo no seu horizonte o desafio de oferecer uma educação profissional humanizada, crítica e cidadã. Entre os cursos ofertados estão os de ensino médio integrados, subsequentes e concomitantes, assim como a Educação de Jovens e Adultos (EJA) para estudantes com 18 anos ou mais. A instituição oferta também a formação superior, pós-graduação por meio de cursos lato sensu e mestrados, bem como, cursos de extensão. No IFRS a EJA está presente em 9 campi, com a oferta de 12 cursos em diferentes eixos tecnológicos e compromete-se com a formação básica e profissional na perspectiva de uma aprendizagem ao longo da trajetória das/os estudantes, propiciando a melhoria de suas condições de vida e de trabalho. Em 2022, o IFRS contava com 840 estudantes matriculadas/os na EJA, destas/es 63,33% eram mulheres, em sua maioria brancas, com uma renda per capita entre meio a um salário mínimo, e com idades entre 25 a 29 anos (Plaforma Nilo Peçanha, 2022). Problematizamos esta realidade por meio das pesquisas empíricas desenvolvidas no Brasil e publicadas nos bancos de teses e dissertações dos últimos cinco anos. Constatamos que as mulheres estudantes da EJA, ao compartilharem suas trajetórias de vida e de trabalho, são empobrecidas, jovens e, em sua maioria, negras, por isso, são histórias singulares marcadas pela intersecção entre classe, raça/etnia, gênero e geração (Fontella, 2019; Model, 2022: Machado, 2022). Além disso, por meio dos estudos teóricos feministas, compreendemos que a divisão sexual e racial do trabalho as inferiorizam e as invisibilizam, e que a precarização do trabalho segue explorando a classe trabalhadora e, mais ainda, os corpos das mulheres (Biroli, 2018; Hirata & Kergoat, 2007; Kergoat, 2009; Souza-Lobo, 2021). A permanência delas nos cursos profissionalizantes revela-se mais complexa e difícil, para além das dificuldades econômicas, de locomoção, de moradia, de trabalho. Há o enfrentamento dos muitos aspectos da naturalização da submissão feminina, além das limitações das próprias estudantes em naturalizar a cultura do sofrimento, sexista e misógina. O estudo que nos propomos é analisar para além do acesso à educação, avançando para o debate sobre as políticas públicas que promovam sua inclusão, mas que ainda precisam discutir outros patamares sociais, que possibilitem melhores condições de igualdade na vida pública.
REFERÊNCIAS
Biroli, F. (2018). Gênero e desigualdades: limites da democracia no Brasil. Boitempo.
Crenshaw, K. (2002). Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Revista estudos feministas, 10, 171–188. http://www.scielo.br/pdf/ref/v10n1/11636.Pdf.
Curiel, O. (2017). Género, raza, sexualidad: debates contemporáneos. Intervenciones en estudios culturales, 3, 4–61. https://intervencioneseecc.files.wordpress.com/2017/07/n4_art03_curiel.pdf.
Davis, A. (2016). Mulheres, raça e classe. Boitempo.
Eggert, E. (2005) A pesquisa como pronúncia do mundo através da produção do conhecimento feminista. In D. Streck & E. Eggert & E. A. Sobottka (Orgs.). Dizer a sua palavra: educação cidadã, pesquisa participante, orçamento público (pp. 31–40). Seiva.
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Freire, P. (2022). Pedagogia do Oprimido (83. ed.). Paz e Terra.
Fontella, C. R. D. F. (2019). Percursos de mulheres no programa nacional de integração da educação profissional com a educação básica na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA). [Tese]. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Gebara, I. (2000). A mobilidade da senzala feminina: mulheres nordestinas, vida melhor e feminismo. Paulinas.
Gonzalez, L. (2020). Por um feminismo afro-latino-americano. In H. B. Hollanda (Org.) Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais (pp. 36–49). Bazar do Tempo.
Hirata, H., & Kergoat, D. (2007) Novas configurações da divisão sexual do trabalho. Cadernos de pesquisa (v. 37, 595–609). https://www.scielo.br/j/cp/a/cCztcWVvvtWGDvFqRmdsBWQ/?format=pdf&lang=pt.
hoocks, b. (2017). Ensinando a transgredir: a educação como prática de liberdade. (2. ed.). WMF Martins Fontes.
Kergoat, D.(2009). Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo. In H. Hirata, F. Laborie, H. Doaré, & D. Senotier (Orgs.). Dicionário crítico do feminismo (pp. 67–75). Unesp.
Lugones, M.(2020). Colonialidade e gênero. In Hollanda, H. B. de (Org.) Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. (pp. 54–81). Bazar do Tempo.
Machado, O. d. S. (2022). Traços disposicionais da desigualdade: Uma análise sobre os estudantes do Ensino Médio Integrado e PROEJA do IFRS. [Dissertação] Universidade Federal do Rio Grande do Sul .
Model, E. S. (2022). Educação tecnológica ao alcance de todas? a invisibilidade das mulheres empobrecidas em revistas produzidas por instituições federais do Sul do Brasil. [Dissertação]. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Plataforma Nilo Peçanha. (2022). Dados oficiais da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Recuperado Novembro 02, 2023, de https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiZDhkNGNiYzgtMjQ0My00OGVlLWJjNzYtZWQwYjI2OThhYWM1IiwidCI6IjllNjgyMzU5LWQxMjgtNGVkYi1iYjU4LTgyYjJhMTUzNDBmZiJ9
Saffioti, H. (2013). A mulher na sociedade de classe. (3. ed.) Expressão Popular.
Souza-Lobo, E. (2021). A classe operária tem dois sexos: trabalho, dominação e resistência.(3. ed.) Fundação Perseu Abramo; Expressão Popular.
Steck, D., & Esteban, M. T. (Orgs.). (2013). Educação Popular: Lugar de construção social coletiva. Vozes.